Conhecida pela sua beleza, a Ilha do Campeche foi tombada como patrimônio arqueológico e paisagístico pelo IPHAN em 2000. É considerada o local que possui a maior concentração de oficinas líticas e gravuras rupestres de todo o litoral brasileiro.
Foram encontrados vestígios de três povos, o que nos permite datar através de gravuras rupestres e oficinas líticas encontradas na Ilha. Os indícios de sua presença encontram-se nos sambaquis e sítios arqueológicos cujos registros mais antigos datam de 4.800 A.C.
Os Sambaquieiros eram pescadores/coletores e já produziam artefatos com ossos e rochas (zoolitos). Em seus sítios arqueológicos temos os Sambaquis, amontoados de moluscos e conchas. Nestes lugares eram acumulados restos de fauna relacionados a dieta e moradia deste povo, além de ser um local sagrado por seus ritos funerários.
O grupo dos Taquara-itararé, eram ceramistas rudimentares e pertenciam ao tronco linguístico -G.
Por fim, os Guaranís pertenciam ao tronco linguístico Tupi. Eles aprimoraram o uso da cerâmica, o que se tornou a principal característica deste grupo. Encontrados por toda região litorânea e hoje conhecidos como Carijós.
Gravura rupestre conhecida como “máscaras gêmeas” na Ilha do Campeche.
Gravuras rupestres no sítio arqueológico conhecido como “letreiro” .
Oficinas líticas: bacias de polimento.
Os sítios arqueológicos são localidades onde se realizam estudos de arqueologia. Eles são considerados áreas de patrimônio onde é possível obter informações sobre as práticas, valores e estruturas de sociedades antigas.
Estes sítios são importantes para ajudar cientistas e historiadores a entender melhor não apenas como nossos antepassados viviam, mas também como a sociedade e o mundo evolui como um todo. São caracterizados por diversos atributos que indicam, de acordo com seu tipo, as atividades exercidas pelas populações antigas que aqui habitavam, e assim aprender a ler as evidências do passado no presente, para delas tirar conclusões e conhecimentos.
A Ilha do Campeche possui a maior concentração de oficinas líticas e gravuras rupestres do litoral brasileiro. Com mais de 100 petróglifos distribuidos em 10 sítios arqueológicos, 9 estações líticas, monumentos rochosos e sítios de ocupação.
As oficinas de trabalho eram feitas no diabásio onde os povos antigos confeccionavam artefatos em sulcos amoladores e bacias, através de fricção de rochas móveis, areia e água. Os sítios arqueológicos são a marca da I lha do Campeche e protegidos por lei.
Observamos duas ondas que impactaram diretamente a biodiversidade da Ilha. A primeira, onde a vegetação nativa da Ilha de Santa Catarina começou a ser explorada no século XVIII com a colonização européia. Após este período a Ilha foi também explorada durante o ciclo da caça das baleias onde a madeira era utilizada como fonte de energia para aquecimento dos fornos, para obtenção do óleo de baleias.
A Ilha do Campeche é coberta por vegetação de três formações: mata atlântica pioneira de restinga, costão rochoso e ombrófila densa. Atualmente a Ilha de Santa Catarina possui como vegetação predominante: pastagens implantadas, vegetação secundária pioneira, capoeirinha, capoeira, capoeirões (50% da cobertura vegetal), floresta secundária e apenas 2 % de floresta primária com pouca interferência antrópica, além de manguezais e restingas.
A segunda onda se deu no ano 1940, quando instalou-se na Ilha do Campeche a Associação de Caça e Pesca Couto de Magalhães, durante estes acontecimentos a vegetação da Ilha sofreu várias alterações a partir da introdução de espécies nativas e exóticas. Além disso, nessa época alguns animais exóticos foram trazidos para caça e alimentação de pescadores.
Com isso, animais que não eram locais como: quatis, macacos, galinhas e patos passaram a fazer parte do ecossistema. Pelo fato de não serem animais típicos, a consequência foi um desequilíbrio local. Com a adequação da Associação de Caça e Pesca Couto de Magalhães à nova realidade, de Preservação da Ilha do Campeche, macacos e patos foram removidos da Ilha. Os quatis permaneceram na Ilha, e hoje encontra-se uma quantidade significativa desses animais, os quais por não possuirem animais predadores e competidores, se reproduzem em larga escala e compõem o ecossistema atual da Ilha.
Atualmente, a fauna da Ilha do Campeche é uma parcela de espécies do continente, ou seja, representantes da fauna do bioma Mata Atlântica.
A Ilha do Campeche foi usada como apoio para caça às baleias e armazenamento do óleo, também para pesca e plantação de subsistência. A pesca da baleia foi a principal atividade econômica de Santa Catarina no século XVIII. Acontecia principalmente entre os meses de junho e agosto. As baleias de grande porte, normalmente da espécie Eubalaena australis (baleia franca), eram arpoadas semanalmente e o seu óleo usado para iluminação pública das cidades brasileiras.
Baleia franca, espécie Eubalaena australis.
Fonte: Instituto Australis.
Na Ilha do Campeche, os vestígios dos tanques ainda estão visíveis. Nas bibliografias publicadas, só existem referências aos tanques de armazenamento do azeite, mas em dias de maré baixa, inúmeros ossos de baleias aparecem na orla da praia, sugerindo que ali também foi um local que serviu de estrutura para compor o cenário de pesca das baleias na época.
Em 1931 iniciou-se um processo de regulação da caça, envolvendo os Estados que detinham as maiores frotas baleeiras ou que tinham jurisdição sobre as águas onde a caça se fazia. Mas apenas em 1946, com a fundação da Organização das Nações Unidas foi aprovada uma resolução criando a Convenção Internacional para a Regulação da Atividade Baleeira. No âmbito desta convenção um número crescente de espécies foi sendo protegido, com a proibição da caça comercial no ano de 1982.
Pode-se definir como patrimônio, o conjunto de bens, direitos e obrigações. Entender o que é patrimônio cultural é uma obrigação de todo o cidadão que quer preservar a cultura de seu povo. Esse conceito objetiva proteger o passado, respeitar o presente e transmitir para gerações futuras uma cultura compartilhada e que reflita um conjunto de valores daquela sociedade.
Pelo fato do patrimônio cultural ter uma função social, ele é protegido pelo Estado. Logo, aquele que danifica de alguma forma esses bens pode sofrer punições previstas por lei. O patrimônio cultural tem como instrumento de ação administrativa e jurídica o tombamento, que é o ato que visa impedir que os bens da sociedade sejam violados, destruídos ou descaracterizados.
A finalidade da atuação do IPHAN é promover em todo país, e de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional. Os únicos bens arqueológicos tombados em Santa Catarina são: a Ilha do Campeche e a Ilha do arvoredo.
É papel de todos nós (como comunidade e grupo de indivíduos) exigir do poder público a transmissão e preservação destas identidades e das culturas do lugar como patrimônio da humanidade. Por isso devemos zelar pela Ilha do Campeche com seus valores excepcionais e de significâncias, como compromisso e dever de preservação às futuras gerações.
A Ilha do Campeche foi tombada como Patrimônio Arqueológico e Paisagístico Nacional em julho de 2000, sendo considerada como um bem da União Federal tombado em sua totalidade pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O tombamento foi instituído pelo Decreto-lei 25/ 1937 que organiza a proteção do patrimônio cultural nacional.
A gestão deste bem tombado baseia-se na Portaria IPHAN 691/ 2009 que dispõe sobre diretrizes e critérios para proteção, conservação e uso da Ilha do Campeche. A Portaria destina-se a organizar o uso e a ocupação visando a proteção ao Patrimônio Cultural e a Visitação Educativa.
Participam da gestão da Ilha do Campeche, o IPHAN e o Instituto Ilha do Campeche, com o apoio do Ministério Público Federal, bem como instituições públicas e grupos da sociedade civil.
Para pesquisas na Ilha do Campeche é necessário solicitar autorização do IPHAN (Art. 23 – Portaria 691/IPHAN/2009) através do protocolo.
Programa de Visitação e
Conservação da Ilha do Campeche.
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